Homem sem H: diálogos sobre representações estereotipadas das masculinidades negras
O presente texto de qualificação expõe a trilha percorrida de uma pesquisa de doutorado que está em curso. Intitulado Homens sem H: diálogos sobre as representações estigmatizantes das masculinidades negras, o estudo tem como propósito investigar as percepções e respostas de homens negros diante de um sistema que historicamente constrói e mobiliza imagens desqualificadoras sobre seus corpos. Um sistema que articula diferentes matrizes de opressão sob a perspectiva de eliminar física e simbolicamente esses corpos. Tanto em termos metodológicos quanto teóricos busco dialogar, de modo particular, com as produções negras brasileira e afrodiaspórica. Trata-se de um estudo de caráter qualitativo que envolve homens autodeclarados negros (pardos e pretos), com idades entre 20 e 60 anos, e a maioria residente no estado de São Paulo. Este texto de qualificação apresenta os principais fios que tecem e dão contorno à pesquisa, mas não se configura como algo acabado. Ao contrário, por se tratar de uma pesquisa em construção, há lacunas a serem preenchidas e espaços para contribuições de pesquisadores mais experientes. Quanto aos achados iniciais, dois me chamam especial atenção e os menciono aqui. O primeiro está relacionado ao fato de que as imagens desqualificadoras fazem parte da vida dos escutados desde a primeira infância e se prolonga. A escola (pública) foi repetidamente mencionada como um ambiente de contato sistemático com essas imagens e portanto, um espaço onde se inaugura a experiência do racismo e evidentemente, isso provoca efeitos, inclusive traumáticos, na construção dessas masculinidades. E o outro diz respeito à presença de mulheres negras na construção das masculinidades dos participantes. Arrisco-me a dizer de modo sintético que os homens negros desse estudo “se fazem homens com mulheres negras” e não com outros homens. E mais do que isso, não se tratam apenas de mulheres-mães, mas igualmente de avós, tias, irmãs, primas, algo que provisoriamente estou nomeando como maternidade estendida.