CULTURA DE ESTUPRO - Uma genealogia da violência sexual
Este trabalho procurou traçar uma genealogia, ou uma das possíveis genealogias, do estupro no Brasil, refletindo sobre os discursos e instrumentos utilizados no controle e repressão da sexualidade feminina. Baseamos nosso estudo nos casos atendidos pelo Serviço Social de Menores no período de 1940 a 1958, observamos as situações de defloramento e estupro refletimos sobre a maneira como as meninas e adolescentes atingidas pelas violências sexuais foram tratadas, como os discursos incidiram sobre elas, os instrumentos médicos e jurídicos, os padrões e valores morais impostos sob essas meninas e adolescentes influenciaram em suas trajetórias. A maioria dessas meninas tem seus caminhos perpassados por violências, pobreza e abandono, suas vidas dentro das instituições que deveriam zelar por seus cuidados são atravessadas pelos discursos que se utilizam do gênero, da classe e da raça para reafirmar preconceitos e impor controle e repressão. Voltamos a esse passado recente, de meninas e adolescentes marcadas pela violência sexual, no intuito de verificar como operou o dispositivo de sexualidade (na perspectiva proposta por Michel Foucault), em contexto e momento histórico específico, e seus efeitos e desdobramentos na atualidade.