OS EFEITOS DA SOLIDÃO NA SAÚDE MENTAL DE MULHERES NEGRAS MORADORAS DE CIDADE TIRADENTES
Este trabalho reflete, a partir das experiências e narrativas biográficas de mulheres negras que residem em Cidade Tiradentes, sobre a solidão das mulheres negras. Analisa se o preterimento nas relações afetivo-sexuais e sociais, somado ao abandono das estruturas econômico-sociais, possui vínculos com o sofrimento psíquico vivenciado por essas mulheres. As imagens de controle fazem parte da estrutura social que coloca essas mulheres no mais baixo lugar de desejabilidade afetiva e das possibilidades de autonomia socioeconômica. Para refletir sobre o tema, foram entrevistadas quatro mulheres que se auto identificam como pretas, pardas ou negras, atendidas no CAPS – Centro de Atenção Psicossocial de Cidade Tiradentes – e que têm diagnóstico em alguma psicopatologia. A partir das narrativas e do testemunho de suas próprias experiências pessoais, foram analisados os discursos a fim de investigar a experiência da solidão registrada em suas vidas. O objetivo deste trabalho é, portanto, analisar os efeitos dos abandonos estruturais e afetivos na saúde mental de mulheres negras. A análise das entrevistas realizadas, em conjunto com a bibliografia selecionada, revela que o abandono das instituições sociais possui vínculos com o adoecimento mental dessas mulheres negras. Por outro lado, o abandono afetivo-sexual, por vezes, é sentido mesmo quando as entrevistadas estão em um relacionamento sério com alguém. Outras nuances da solidão relacionada ao seio familiar também foram perceptíveis. Todas as participantes relataram momentos precisos — traumáticos — que desencadearam a ruptura de sua saúde mental. Com vistas a situar a emocionalidade no campo da construção das relações sociais, procura-se aqui aprofundar nesse debate também com o objetivo de subsidiar futuras políticas públicas na área da saúde mental.