População Negra, Sobrevivência e Empreendedorismo: O Caso de Três Empreendedoras negras no município de São Paulo
O empreendedorismo de mulheres negras no Brasil tem sido historicamente uma estratégia de resistência e sobrevivência, desde o período colonial até os dias atuais. Este estudo analisa as trajetórias de três mulheres negras empreendedoras de regiões periféricas de São Paulo, destacando os desafios e estratégias que caracterizam suas experiências. A pesquisa parte de uma abordagem interseccional, considerando como raça, gênero e classe se entrelaçam para moldar a realidade dessas mulheres, e explora o impacto do racismo estrutural e das desigualdades socioeconômicas em suas jornadas. O contexto histórico revela que, mesmo após a abolição, a população negra permaneceu marginalizada, enfrentando dificuldades de acesso ao mercado de trabalho formal. Dados recentes do IBGE confirmam a persistência das desigualdades raciais, refletidas na disparidade salarial e na sub-representação de negros em cargos gerenciais. No empreendedorismo, embora negros representem 51% dos empreendedores no país, a maioria enfrenta obstáculos financeiros e estruturais para consolidar seus negócios. A motivação da pesquisa tem uma dimensão pessoal, pois a pesquisadora, enquanto mulher negra, reconhece na própria trajetória e na de sua mãe desafios semelhantes aos enfrentados pelas entrevistadas. Essa perspectiva reforça o compromisso com um olhar crítico e engajado na busca por justiça social e equidade racial. Os resultados mostram que o empreendedorismo, para essas mulheres, vai além da independência financeira; é um ato de resistência e afirmação de identidade. Apesar das dificuldades, como acesso limitado a crédito e discriminação racial e de gênero, elas encontram nas redes de apoio e no compartilhamento de saberes comunitários formas de fortalecimento e crescimento. No entanto, barreiras estruturais ainda dificultam a expansão de seus negócios. O estudo conclui destacando a necessidade de políticas públicas e iniciativas que promovam maior equidade e oportunidades para mulheres negras empreendedoras. Reconhecer e valorizar essas trajetórias é essencial, pois elas representam não apenas resistência, mas também inovação e impacto social. A pesquisa contribui para o debate sobre empreendedorismo negro no Brasil, reforçando a importância de combater as desigualdades estruturais e promover a inclusão econômica e social dessas mulheres.