AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS METABÓLICOS DO AMBIENTE FOLICULAR DE MULHERES INFÉRTEIS COM SOBREPESO
A infertilidade é uma condição bastante prevalente, pesquisas recentes estimam que um em cada seis indivíduos sofrerá de infertilidade durante a sua vida. Por outro lado, o excesso de peso também é uma condição merece atenção, já que afeta metade da população brasileira. Além disso, existe uma tendência preocupante que sugere que mais de metade da população mundial poderá ser obesa até 2035. Dada a crescente prevalência destas duas condições, é cada vez mais comum encontrar mulheres com excesso de peso que procuram tratamento de reprodução assistida. Está bem estabelecido que o aumento excessivo de peso afeta negativamente a recuperação de oócitos, levando a uma baixa taxa de fertilização, a uma alta concentração de lipídios no líquido folicular (FF) e à produção de embriões de baixa qualidade. No entanto, identificar as causas subjacentes destes efeitos continua a ser um desafio. Neste estudo, exploramos os aspectos metabólicos do ambiente folicular em mulheres inférteis com excesso de peso e seu impacto em oócitos e embriões. Reconhecendo o número limitado de estudos enfocando folículos individuais e seu fluido folicular, conduzimos uma análise prospectiva unicêntrica envolvendo 20 pacientes. O recrutamento foi baseado no Índice de Massa Corporal (IMC), levando à formação de dois grupos: IMC Normal variando de 18,5 a 24,9 kg/m² e IMC Elevado variando de 25 a 29,9 kg/m. No dia da punção, folículos individuais foram aspirados e os fluidos foliculares foram analisados para conteúdo de glicose, lactato, insulina e Malondialdeído (MDA), importante marcador de estresse oxidativo. Avaliações morfocinéticas foram realizadas para todos os embriões produzidos a partir dos oócitos recuperados, além da mensuração da área dos oócitos maduros. Mulheres com IMC elevado apresentaram níveis duas vezes mais elevados de lactato no FF (p=0,01). Inesperadamente, mulheres com IMC normal apresentaram maior quantidade de MDA (p=0,004), enquanto os níveis de insulina e glicose não diferiram significativamente (p=0,85 e p=0,90, respectivamente). O perfil lipídico das pacientes com diferentes IMC’s apresentaram diferença em sua composição, conforme o teste de PLS-DA; esfingolipídeos, bases esfingoides e e conjugados esteroides foram identificados com classes de lipídeos mais presentes no FF de mulheres com sobrepeso. Os oócitos maduros de mulheres com IMC elevado foram menores em comparação com os de pacientes com IMC normal (p=0,03). Em relação aos parâmetros morfocinéticos, o tempo de desaparecimento de pronúcleo foi maior nos embriões provenientes de mulheres com IMC elevado (p=0,003). Com base nestes resultados, conclui-se que o IMC elevado impacta o conteúdo folicular, com consequências para o oócito e para o futuro embrião.