EFEITO DE ORGANOCALCOGÊNIOS DE TELÚRIO E SELÊNIO SOBRE A EXPRESSÃO DE mRNAs ENVOLVIDOS NA HOMEOSTASE DE ADIPÓCITOS DE LINHAGENS CELULARES 3T3.
A obesidade é caracterizada pelo acúmulo de gordura em adipócitos. No tecido adiposo de obesos, um processo inflamatório está sempre presente e está fortemente associado ao estresse oxidativo no tecido, mediado por células do sistema imune ali residentes. Contudo, a ocorrência do estresse oxidativo no adipócito e os mecanismos que levam à sua morte são pouco conhecidos. Modelos in vitro são amplamente utilizados para avaliar os processos de morte celular em adipócitos provocados pela obesidade. Neste contexto, compostos organocalcogênios de selênio e telúrio se mostram promissores como possíveis agentes farmacológicos por sua capacidade antioxidante, porém, em altas concentrações são tóxicos para as células por promoverem estresse oxidativo. Neste estudo, cinco organocompostos foram selecionados: composto A (N1-(7-cloroquinolina-4-il)-N2-(4-(feniltelurinil)benzil)etano-1,2-diamina), composto B (N1-(7-cloroquinolina-4-il)-N2-(4-(feniltelanil)benzil)etano-1,2-diamina), composto C (N1-(7-cloroquinolina-4-il)-N2-(4-(fenilselanil)benzil)etano-1,2-diamina), 1,2 difenilditelureto [Ph2Te2] e 1,2 difenildisseleneto [Ph2Se2]). Pré-adipócitos das linhagens 3T3-L1 e 3T3-F442A foram tratados com concentrações crescentes dos organocompostos por 22 horas. A citotoxidade foi avaliada por ensaio MTT, e na linhagem 3T3-L1 IC50 foi de 12,26 mM, 27,27 mM, 69,16 mM, 82,15 mM e 311,4 mM, para o composto C, Ph2Te2, Composto A, Composto B e PH2Se2, respectivamente. Para a linhagem 3T3-F442A, os valores de IC50 foram de 5,95 mM, 8,04 mM, 22,95 mM, 28,91 e 159,5 mM, para Ph2Te2, o composto C, Composto A, Composto B e Ph2Se2, respectivamente. Quando adipócitos maduros da linhagem 3T3-F442A foram submetidos ao mesmo tratamento, o IC50 observado para o composto C foi de 98,64 mM, para o composto A foi de 103,1 mM e para os compostos B e Ph2Te2 não foi possível determinar o IC50. Análises morfológicas de adipócitos maduros após 22h de tratamento com 100 mM de Ph2Te2 ou Composto C mostram morte celular, possivelmente por apoptose, evidenciado por núcleos marcados com Hoechst apresentando condensação e picnose. E ainda, marcações com sondas para mitocôndrias (MitoTracker), apresentam atividade mitocondrial nas células apoptóticas. Marcação com sonda para lipídeos neutros (Bodipy) indicam menor intensidade da marcação em células tratadas com Ph2Te2, sugerindo perda da neutralidade, possivelmente por peroxidação lipídica. Quando submetidas a tratamento agudo (2h) com 10 mM ou 100 mM de Ph2Te2, adipócitos maduros não apresentaram alterações morfológicas nem na atividade mitocondrial. Entretanto, a marcação de lipídeos neutros com Bodipy também foi atenuada no grupo 100 mM quando comparado aos grupos controle e 10 mM, sugerindo, novamente, perda da neutralidade, possivelmente por peroxidação. A avaliação da abundância de mRNA por RT-qPCR mostra que o tratamento agudo com 10 mM ou 100 mM não afetou a abundância de mRNAs importantes para a função do adipócito, nominalmente: Adiponectina (AdipoQ), Fatty Acid Synthase (Fasn), Glut4 e Fatty Acid Binding Protein 4 (FABP4). Entretanto, os níveis de mRNA para HSP70 estavam cerca de 2,3x maiores no grupo 100 mM, quando comparados aos grupos controle e 10 mM. Ao mesmo tempo, os níveis de mRNA para CD95 estavam cerca de 23% menores neste mesmo grupo em comparação aos grupos controle e 10 mM. Combinados, estes dados sugerem ativação da via de sobrevivência celular no tratamento agudo. Adicionalmente, a citocina pró-inflamatória IL-6 apresentou uma queda de cerca de 33% na abundância de seu mRNA no grupo 100 mM quando comparado aos grupos controle e 10 mM. Desta forma, este estudo mostra que os compostos organocalcogênicos utilizados são citotóxicos, tendo Ph2Te2 e composto C (N1-(7-cloroquinolina-4-il)-N2-(4-(fenilselanil)benzil)etano-1,2-diamina) apresentado os menores valores de IC50 em ambas as linhagens de fibroblastos. A diferenciação em adipócitos tornam estas células resistentes à esta citotoxicidade. A morte celular observada é compatível com apoptose. Tempo de exposição agudo evidencia que mecanismos de sobrevivência celular, na concentração de 100 mM, já são acionados concomitante ao início do tratamento, antes de qualquer efeito ser obsevado na função do adipócito e parece haver um possível papel para a peroxidação lipídica como forma de defesa do adipócito à citotoxicidade do Ph2Te2.