Tramas e nós nos sertões das Gerais - identidades no sertão roseano face às dinâmicas territoriais recentes
Esta pesquisa investiga as transformações das dinâmicas territoriais recentes e suas consequentes modificações na paisagem, que alteram os elementos identitários das comunidades rurais estudadas. Para tanto, elege-se o sertão representado por Guimarães Rosa na obra Grande Sertão: Veredas (GS:V) pelo potencial literário de desvelar a diversidade ontológica do sertão. A inclusão dessa literatura se deve, entre outros, ao fato de creditar à obra a constituição de uma representação da sociedade sertaneja que, apesar de ficcional, pode ser lida enquanto testemunho dos modos de vida e de comunicação dos sujeitos subalternos da história (Fantini, 2008). A representação exercida pela literatura reordena a realidade de forma a torná-la mais vívida do que se fosse fiel aos materiais não literários (Candido, 2007), e potencialmente podendo potencialmente conduzir a novos sentidos e práticas sociais (Haesbaert, 1997). Na contemporaneidade as fronteiras da obra são reatualizadas num processo arrítmico e cíclico, a partir da exploração de novos recursos naturais, em processos de “mercantilização ambiental” (Rasmussen et al., 2018). O recorte escolhido para a pesquisa desenvolvida se localiza no município de Chapada Gaúcha, noroeste mineiro. O município apresenta áreas ainda preservadas de cerrado, mas vem sofrendo com processos de desmatamento e desertificação, impactando diretamente nas comunidades rurais existentes. Para realizar a análise das transformações das dinâmicas territoriais na área de recorte proposta utiliza-se das noções de fronteira, identidade e paisagem. As categorias trabalhadas por Martins (1996 e 2009), Becker (1983), Geiger (2009), Haesbaert (1997), Bhabha (1998), Hall (2022) e Berque (1985) auxiliam no desenho das interdependências entre território, paisagem e identidade, e permitem identificar as permanências e alterações da paisagem e dos elementos identitários a partir da conformação de uma rede mais diversificada de atores no território e das dinâmicas do capital global. Dessa forma, o estudo questiona quais são as resiliências dos elementos da identidade territorial que compõem a paisagem local frente aos fenômenos contemporâneos e quais as restrições e avanços dos planos e projetos na valorização dos elementos identitários. Recorre, para tal, a três estratégias principais: a análise da obra GS:V à luz dos elementos identitários da paisagem local, a análise das dinâmicas territoriais recentes em relação aos conflitos socioeconômicos a partir da revisão bibliográfica, entrevistas e observação em campo, e por último, a análise da interrelação dessas dinâmicas com projetos e planos em curso.