"Quem corre pra viver, quem corre perigo: violência e produção do espaço periférico em São Paulo"
A presente pesquisa teve como inquietação inicial a análise dos cruzamentos entre violência e as novas modulações do neoliberalismo nos territórios periféricos brasileiros. Ao longo da pesquisa e especialmente com a entrada em campo, que forçou mudanças no estatuto teórico da pesquisa e nas próprias hipóteses das quais partimos, foi feito um importante deslocamento analítico. Considerando as condições trazidas pelas incursões etnográficas, a pesquisa tem por objetivo identificar e debater as relações e cruzamentos entre formas variadas de violência ligadas direta ou indiretamente ao processo de produção e reprodução do espaço periférico. Partindo de incursões etnográficas realizadas em uma favela localizada no distrito do Grajaú, Zona Sul da cidade de São Paulo, buscamos analisar as constelação de atores que disputam a hegemonia sobre o território periférico, na qual se inserem Estado, movimentos sociais tradicionais de luta por moradia, igrejas, crime organizado, proprietários, organizações da sociedade civil - especialmente ligadas às dimensões de (re)produção do espaço urbano - e os próprios moradores da favela, envolvidos em maior ou menor grau com todas essas dimensões.
A partir desse fragmento da cidade de São Paulo, é possível identificar transformações e permanências importantes nas dinâmicas e na condição resultante da produção do espaço periférico, implicadas nas relações entre novos e antigos atores, especialmente considerando a condição singular da favela Luiz Gonzaga, cuja ocupação se insere no bojo de mobilizações e movimentos que se desenrolaram a partir de 2013. Nesse contexto, os próprios sentidos da violência e os regimes de justiça operados nos territórios se atualizam, embebidas nas transformações políticas, sociais, legislativas, morais e normativas que marcam as novas modulações do neoliberalismo contemporâneo no Brasil.